"COZINHA MUSEU" - IV edição


Festas juninas

Convidados:
Adel Souki
Andréa Lanna
Dudude Hermamm
Guilherme machado
Sávio Reale

Junho é mês de santos. Organizadas ao redor de três deles, benfazejos e bonachões- Santo Antônio , São João e São Pedro - as festas juninas estão profundamente gravadas no imaginário de todos nós, alegrando as noites frias de junho com suas fogueiras, quadrilhas ao som da sanfona e violas,abrindo os apetites com suas comidas típicas.
Trazidas ao Brasil Colonial pelos padres jesuítas e pelos portugueses, essas festas rapidamente conquistaram a preferência popular. Conta-se que os índios adoravam os folguedos ao redor das fogueiras. A tal ponto que, até hoje, a culinária tradicional dessas festas é de origem tipicamente indígena. A canjica de milho verde, por exemplo, deriva diretamente da papa indígena de água e milho, bem como outras guloseimas como amendoim cozido, cana-mirim, batata-doce, inhame, jenipapo, aipim. No decorrer do tempo, outros ingredientes originários das culturas africana e européia vieram enriquecer os pratos de base indígena: açúcar, leite de coco, erva-doce, cravo e canela, sal.


A cozinha Museu nesta edição de junho traz três receitas que não podem faltar durante estes festejos:

A canjica
Realmente não há dúvidas de que a comida vai se adaptando às diferentes regiões em que é utilizada e vai ganhando nomes e versões diferentes e a canjica é a prova disto. Nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás, pode chamar-se, curau. No Rio de Janeiro encontra-se também como canjiquinha e, em Minas Gerais, como canjica ou papa de milho. Também pode ser chamada de mugunzá nos estados do nordeste. O termo “canjica” vem do quimbundo africano - língua falada pela tribo dos bantos de Angola- Kanjika. Era Costume nas mesas da gente do Rio do Janeiro (mesmo antes da chegada da corte portuguesa ao Brasil, no início de 1800) ter como sobremesa a canjica temperada com açúcar.


Curiosidades:
(expressões populares e a canjica)
¨Pôr fogo na canjica¨: para apressar, animar.
¨Socar canjica¨: andar a cavalo, em trote sem amortecer o choque do corpo na sela.

"Estar, viver ou andar ?com as canjicas de fora? :"significa rir.
“Tomar banho de canjica”: muito usado para limpeza espiritual,sem tempero, apenas cozinhando o milho na água e esfregando-a no corpo.


A receita:
Canjica doce
(segundo Maria Auxiliadora Reale Pereira)


Ingredientes:
.1/2 kg de canjica branca
.1/2kg de amendoim torrado, sem casca e moído *
.1 coco natural, ralado(aqueça-o na chama do fogão, para soltar a casca) *
.2 litros de leite condensado *
.açúcar
.canela em pau *
.cravo *


Deixe a canjica de molho na véspera, cobrindo-a totalmente com água.
Modo de preparo:
No dia seguinte após escorrer a água restante, coloque a canjica em uma panela de pressão, cobrindo-a novamente com água (três dedos acima). Deixe que cozinhe por aproximadamente meia hora em fogo médio para alto. Caso já esteja totalmente cozida,acrescente 1 litro de leite e mexa sempre, para não agarrar no fundo da panela. Acrescente aos poucos mais um litro de leite. Após a secagem do leite, acrescente o leite condensado e, aos poucos, vá inteirando com açúcar, a gosto. Acrescente canela, cravo, amendoim e o coco a gosto. Servir quando o caldo estiver encorpado.
Rende 20 porções.
Caso o caldo acabe antes da canjica, acrescente mais leite e deixe ferver, mexendo sempre.
* Esses itens são usados para dar sabor e para “temperar” a canjica. Podem ser alterados pois as formas de temperar variam conforme a região, a autoria da receita a mão do cozinheiro,e,é claro, estarão sempre sujeitas aquilo que temos na dispensa e ao gosto das papilas.O leite condensado, usado para dar doçura e cremosidade à canjica, pode ser suprimido e, neste caso, deve-se aumentar o açúcar. Para dar cremosidade deve-se então, bater um pouco da canjica com o seu caldo e leva-lo de volta ao todo, na panela que borbulha a delícia. Não esquecendo: como quase tudo na vida, uma pitada de sal sempre vai bem.


Praliné:
Balancê, travessê, anavan tur, changê, outrefoá, anarriê... grita em afrancesado “capiau” o marcador, a pessoa que comanda quadrilha provocando risos, e orientando os passos a serem executados pelos participantes da quadrilha, rementendo-nos a sua origem francesa.
Dos salões reais, a quadrilha com seu ritmo sincopado e suas marcações dançantes, acabou perdendo o formalismo dos salões, foi ganhando um tempero brasileiro e virou uma mania popular que atingiu os recantos do país.
Assim também aconteceu com praliné. Na Europa feito com amêndoas, aqui para adoçar, com coco ou amendoim nas nossas festas juninas. Dizem que as mulheres sempre procuram os de coco, já os homens, preferem os de amendoim que traz mais “sustança” aos compadres. Esta delícia crocante foi criada por um belga, Jean Neuhaus, é mesmo crocantemente irresistível.

A Receita:
Praliné
(segundo informações na internet)

. 3 copos (americanos) de amendoim cru e com casca.
.1 copo e meio (americano) de açúcar.
. meio copo (americano) de água.
. uma colher de chocolate (ingrediente opcional).
. 1 pitada de bicarbonato.

Por os ingredientes em uma panela, inclusive a pitada de bicarbonato. Depois que começar a ferver, mexer sem parar. Quando ficar na cor de chocolate, retirar do fogo e mexer até secar.Servir em saquinhos, enfeitados ou assim mesmo: um bocadinho na mão direto para a boca.

O Quentão:
A palavra é de origem caipira,particularmente do interior do Estado de Minas e São Paulo segundo o folclorista Amadeu Amaral em ”O Dialeto Caipira”.
É preparado em grande quantidade, afinal é uma bebida quase folclórica para se beber em festa entre muitas pessoas. Esta infusão de cachaça ou vinho, vai bem para acompanhar pipoca,o milho, pé -de- moleque, pinhão, e claro, um bom papo. O quentão é um parente do grog europeu, que era um preparado de um destilado de vinho, o conhaque,aquecido e temperado com especiarias e, segundo reza a lenda, chegou ao país com as navegações portuguesas durante o ciclo econômico da cana-de-açúcar. Na falta de outro destilado para preparar o drinque e espantar o frio ( no Nordeste, realmente não sei que frio é esse que precisava até de quentão...), os marujos usavam a boa e velha cachaça. Claro que deve ter dedo dos negros nessa mistura tipicamente brasileira, afinal foram eles que trouxeram o gengibre para o país, item essencial da bebida. Foi no sul e sudeste que os italianos aportados no século 19 somaram vinho à cachaça. Da sua forma mais básica e tradicional muita coisa mudou até hoje e há inúmeras variações. Aos poucos foram acrescentadas outras especiarias à mistura, como o cravo e a canela em rama. Há várias receitas de quentão, cada uma com suas variações. Qual é a sua preferida?

A receita:
Quentão
(segundo Francisco Magalhães e Dirce Lacerda)

. 1 litro de boa cachaça
. 50g de canela de pau
. 50g de cravo
. 15 folhas de mexerica
. cascas de uma a duas mexericas
. 250g de gengibre ralado ou picado grosso
. 2 limões partidos ao meio
. 1 copo (americano) de açúcar cristal
. 1 litro de água
Em uma panela grande, torrar o açúcar (em fogo alto) até ele dourar, e ficar com a cor âmbar, ou um pouco mais claro. Baixar o fogo e despejar canela, limão, cravo, gengibre e as folhas de mexerica. Quando o açúcar estiver soltando da panela, pôr a água e a cachaça. Deixar ferver por quatro minutos. Coar e servir quente. Guardar a bebida em recipiente fechado.













Artistas convidados para a ação: Adel Souki, Andréia Lanna, Dudude Herrmann, Guilherme Machado e Sávio Reale


fotos Luiz Henrique Vieira

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